A cooperativa de fotógrafos Juntos busca uma indústria mais igualitária e oferece um patamar sobre o qual podemos melhorar a segurança e manter a dignidade de todos os jornalistas que estão arriscando a sua saúde para documentar a pandemia do COVID-19.

Muito do que sugerimos, além de óbvio, já deveria ter sido implementado há muito tempo, e mesmo neste momento em que o jornalismo está passando por um período de profunda transição, temos aqui a oportunidade de realizar uma mudança imediata. Nós temos a obrigação de garantir a saúde física e mental dos que fazem parte desta integrantes indústria neste momento em que estão enfrentando e irão enfrentar incerteza e risco. Se a indústria falhar, apenas jornalistas com recursos, certamente uma privilegiada minoria nesta profissão, poderão sobreviver.

Estamos otimistas de que esta pode ser uma oportunidade para sermos mais responsáveis, humanitários e cooperativos com as comunidades cujas histórias estamos contando. Temos que levar em consideração as necessidades deles e as nossas; estamos vendo, em tempo real, como essas conexões determinam a nossa saúde coletiva. Se os meios não podem oferecer os recursos e as proteções necessárias para os jornalistas que trabalham para eles em tempo integral e como freelancers, então eles não estão em posição de contratar ninguém. São os padrões ditados pela Organização Mundial de Saúde que devem ditar o nosso comportamento neste momento. Jornalistas de campo necessitam atuar como se estivessem contaminados pelo coronavirus após terem coberto a notícia de um lugar considerado como um foco de contaminação. Devemos entrar em quarentena voluntária mesmo se não tivermos sintomas ao regressarmos aos nossos lugares de origem. A espera de 14 dias em quarentena antes de que comecemos um novo projeto é uma necessidade se tivermos voltado de uma área com altos índices de contaminação e estivermos a caminho de outra onde a infraestrutura médica já está saturada ou onde possamos contaminar um número indeterminado de pessoas. Os meios devem dar prioridade de contratação a jornalistas locais. Eles entendem melhor do que ninguém os riscos envolvidos e, por isso, estão melhor preparados para levar em consideração o bem-estar de toda a comunidade. 

Como jornalistas visuais, o nosso instinto é cair de cabeça na história. Sabemos que jornalistas estão passando por dificuldades financeiras, e que a crise gerada pelo coronavirus fez dessas dificuldades ainda maiores. Não podemos pedir que o jornalista arrisque passar fome ou deixar de pagar o aluguel, e sabemos que essas são escolhas que muitos de nós teremos que fazer em breve. Se você é um editor, considere contratar freelancers para que desenvolvam projetos de reportagem ou para fazerem pesquisa se não está preparado para enviarnos de maneira segura para fazermos reportagens de campo.

Freelancers normalmente não têm seguro de saúde ou, se têm, o seguro é normalmente inadequado. Muitos freelancers enfrentam obstáculos para se estabelecerem no jornalismo por conta da cor da sua pele, preferência sexual e condição sócio-econômica, entre outras razões. O desemprego e a desigualdade nos seguros de saúde que possuem já afeta integrantes destes grupos há muito tempo. Os jornalistas que mais se expõem ao risco são muitas vezes os que mais têm a perder.

Orientações para editores quanto à contratação de jornalistas freelancers para a cobertura da crise do coronavirus:
  • Mantenha o canal de comunicação aberto e tenha discussões honestas sobre os riscos envolvidos.
  • Sempre que possível, contrate jornalistas locais para fazerem a cobertura em comunidades afetadas.
  • Inclua o custo do equipamento de proteção individual no custo da contratação destes freelancers.
  • Estabeleça um plano de quarentena e de limpeza para redução de riscos à saúde.
  • Encare a cobertura do coronavirus com a mesma seriedade em que encara a cobertura em zonas de conflito.
  • Preocupe-se com a saúde emocional dos jornalistas.
  • Disponibilize uma verba para as despesas antes de que o jornalista faça o trabalho e pague-o pelo trabalho o mais rápido possível.
  • Se o jornalista tiver que viajar para a cobertura, pague-o pelo tempo que ficar de quarentena.
  • Faça uma documentação de todas as pessoas com quem o jornalista interaja caso o jornalista fique doente. Desta maneira, é mais fácil e mais rápido fazer a identificação. 
  • Assegure-se de que o jornalista seja testado e, caso necessário, pague pela sua hospitalização se/quando o jornalista ficar doente.
  • Continue a pagar a diária dos freelancers enquanto estiverem doentes.

O jornalismo feito de maneira correta incorpora padrões de integridade e respeito. Esperamos que esses valores sejam honrados para que possamos construir um futuro que acreditamos ser possível. Pedimos aos jornalistas freelancers que se unam para que possamos elevar os padrões da indústria e proteger-nos uns aos outros neste momento onde o nosso trabalho e a nossa proteção é mais importante do que nunca.

Com amor e solidariedade,

Juntos Cooperativa Fotográfica


 

Quem somos

Nós somos: Ash Ponders, Caitlin O’Hara, Elaine Cromie, Jovelle Tamayo, Laura Saunders, Michaela Vatcheva, & Noemí González. Estamos nos esforçando para que possamos ser mais responsáveis com as comunidades onde fazemos o nosso trabalho de jornalismo visual.

Recursos:

Authority Collective COVID-19 Resource Page

Everyday Projects COVID-19 Guide

Traduzido

Traduzido po: Fernanda Santos; Adriana Zebrauskas